segunda-feira, 7 de setembro de 2015

CRUEL COMPAIXÃO – 1994

“Devo ser cruel para fazer o bem. Assim nasce o mal – e por detrás, o pior vem.” (William Shakespeare apud SZASZ, 1994: 9 epígrafe)

“A benevolência é cultivada constantemente pelos filantropos, às expensas da modéstia, da veracidade e da consideração pelos direitos e pelos sentimentos dos outros; pois, pelo simples fato de um homem dedicar-se a esforços conscientes para tornar outras pessoas mais felizes e melhores do que são, esse homem afirma conhecer melhor que eles quais são os elementos necessários que constituem a felicidade e a bondade. Em outras palavras, ele se arvora em seu guia e superior.” (Jurista Vitoriano James Fitzjames Stephen apud SZASZ, 1994: 15-16)

 “Em nosso [psiquiatria] afã de medicalizar a moral, transformamos quase todos os pecados em doença. Raiva, gula, luxúria, orgulho, preguiça são todos sintomas de doenças mentais.” (SZASZ, 1994: 22)

Somente os anjos são capazes de ginásticas existenciais de odiar o pecado mas amar o pecador. Os mortais comuns são mais propensos a praticar o pecado na intimidade e odiar o pecador em público”. (SZASZ, 1994: 26)

“Tirar um homem, que sequer cometeu um leve delito, de uma comunidade que ele escolheu para viver é uma violação evidente da liberdade e da justiça normal.” (Adam Smith apud SZASZ, 1994: 35)

“A história nos ensina não apenas que os pais sempre abusaram dos filhos, mas também que cada prática abusiva socialmente adotada estava, por definição, tão bem integrada na cultura que a servia que, para uma pessoa razoavelmente aculturada, não parecia de modo algum ser um abuso.” (SZASZ, 1994: 104)

“No Ocidente, um pai não pode consentir que seu filho menor tenha relações sexuais com uma pessoa adulta (“para o próprio bem do filho”). Igualmente, não se deveria permitir que um pai consentisse que seu filho tivesse relações psiquiátricas (“para o próprio bem do filho”). As relações sexuais entre adulto e crianças são legalmente consideradas como estupro; a psiquiatria infantil deveria ser banida, como um estupro psiquiátrico.” (SZASZ, 1994: 109)

“Sou a favor da eutanásia para esses seres [paciente mental infantil] sem esperança, que nunca deveriam ter nascido – enganos da natureza... Creio que seja um ato de misericórdia e de bondade livrar esses defeituosos da agonia de viver... O organismo social crescerá e irá de encontro ao desejo de mitigar, decentemente, a vida dos absolutamente incapacitados, esterelizar os menos incapacitados e educar os menos incapacitados... e, assim, a civilização poderá progredir para sempre em harmonia.” (Um dos maiores Psiquiatras na América em 1941 Foster Kennedy apud SZASZ, 1994: 116)

“Vivemos enganando a nós mesmos de que ter um lar e ser mentalmente saudável são nossas condições naturais – e de que nos tornamos sem-lar ou mentalmente doentes quando “perdemos” nossos lares e mentes. O oposto é que é verdade. Nascemos sem lar e sem raciocínio e temos que nos esforçar e nos alegrar se conseguirmos edificar um lar seguro e uma mente sã.” (SZASZ, 1994: 138-139)

“(...) nós frequentemente atribuímos o mau comportamento à doença (para desculpar o agente); nunca atribuímos o bom comportamento à doença (a menos que privemos o agente de crédito); e, tipicamente, atribuímos o bom comportamento ao livre arbítrio e insistimos que o mau comportamento, chamado de doença mental, é um ato “não falho” da natureza.” (SZASZ, 1994: 167)

“É mais do que certo que, sob a máscara da devoção e do gesto piedoso adoçamos, sim, o próprio demônio.” (William Shakespeare apud SZASZ, 1994: 180)

“Os gregos entendiam que encontrar a verdade era um ato de descoberta que exigia remover “o véu que cobre ou oculta algo”. O véu que usamos para encobrir a verdade da condição humana é a psiquiatria. Se o levantarmos, redescobriremos os fundamentos familiares da existência, isto é, que algumas pessoas trabalham e outras não – e que o negócio da psiquiatria é distribuir alívio aos pobres (disfarçado em cuidado médico) e a adultos dependentes (cuja indolência e falta de pudor são disfarçadas em doença).” (SZASZ, 1994: 225)

“A verdade é que, após tratamento com drogas neurolépticas, os pacientes mentais tendem a ficar mais doentes e mais incapazes que antes. Muitos exibem os efeitos tóxicos das drogas, sofrendo de uma perturbação neurológica desfigurante chamada de “discinesia tardia”. Praticamente, todos eles continuam a depender da família ou da sociedade para alimentação e abrigo. O contraste estabelecido entre o hospital mental e a comunidade é uma mentira. Os domicílios que agora recolhem pacientes mentais crônicos não são nem mais nem menos parte da comunidade do que o hospital do Estado.” (SZASZ, 1994: 231)

“Uma vez que o paciente mental que se enquadra nos benefícios por invalidez é considerado como permanentemente incapaz de trabalhar, ele não tem que se submeter a tratamento, pode viver onde quiser e gastar seu dinheiro como bem entender; pode casar-se, divorciar-se, ter filhos e votar. Se for detido por algum crime, pode alegar insanidade. A única coisa que ele deve fazer para qualificar-se a receber os fundos federais é permanecer louco e desempregado.” (SZASZ, 1994: 247)

“A maioria das pessoas acredita que pessoas psicóticas sofrem de ilusões e alucinações, executam atos ilógicos ou sem motivo e negam sua doença. A verdade é mais simples e mais dolorosa. Os atos e as falas dos psicóticos fazem muito sentido, mas isto é algo tão perturbador que preferimos não ouvir nem entender. Essa recusa de uma pessoa normal em reconhecer o método na conduta irregular do outro pode ser uma opção existencial razoável. Mas aquele que não quer entender o outro, não tem direito a dizer que aquilo que o outro faz ou diz não faz sentido.” (SZASZ, 1994: 271)

“porque eu percebi que você [SZASZ] queria manter os valores do livre arbítrio e da responsabilidade e era forçoso reconcilia-los com a psiquiatria. Por mim, muito antes de ter mudado minha residência da medicina para a psiquiatria, estou certo de que isso era impossível, que a psiquiatria estava basicamente errada...” (Menninger apud SZASZ, 1994: 304)

“Tenho em mãos seu novo livro, Insanity: The idea and its consequences. Li parte dele ontem e também cheguei a reler alguns trechos. Acho que sei do que trata mas realmente gostei de ouvir isso dito outra vez. Penso que entendo melhor o que o tem perturbado esses anos e que, de fato, perturba a mim também, agora. Não gostamos da situação que ora predomina, onde um ser humano é posto de lado, banido, por assim dizer, ignorado, rotulado e chamado de “doente da mente”.” (Menninger apud SZASZ, 1994: 304)


“É desonesto valer-se do pretexto de que cuidar coercitivamente do doente mental invariavelmente o ajuda e que abster-se de tal coerção é o mesmo que “sonegar-lhe o tratamento”. Toda política social acarreta benefícios e prejuízos. Embora nossas idéias sobre benefícios e danos variem de tempos em tempos, a história nos ensina a estar precavidos com benfeitores que privam seus beneficiários da liberdade.” (SZASZ, 1994: 308)

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