“O conceito de doença mental é
análogo ao de feitiçaria. No século XV, os homens acreditavam que algumas
pessoas eram feiticeiras, e que alguns atos eram devidos à feitiçaria. No século
XX, os homens acreditam que algumas pessoas são insanas, e que alguns atos são
devidos à doença mental.” (SZASZ, 1976: 19)
“Os homens que acreditavam na
feitiçaria criavam feiticeiras ao atribuir esse papel a outros, e às vezes a si
mesmos. Dessa maneira, literalmente fabricavam feiticeiras cuja existência,
como objetos sociais, provava a realidade da feitiçaria.” (SZASZ, 1976: 20)
“Um cidadão bem nascido de Spires
tinha uma mulher de disposição tão teimosa que, embora tentasse agradá-la de
todas as formas, recusava-se de todos os modos a atender aos seus desejos, e
estava sempre atormentando-o com insultos injuriosos. Aconteceu que, ao voltar
um dia para casa, como sua mulher se voltasse contra ele com palavras
injuriosas, ele desejou ir embora, a fim de fugir de discussão. Mas a mulher
correu rapidamente à sua frente, e fechou a porta pela qual o marido desejava
sair; aos gritos, disse-lhe que, se não batesse nela, isso indicaria que ele
não era honesto nem fiel. Diante dessas palavras pesadas, o marido estendeu a
mão, sem a intenção de feri-la, e bateu de leve, com a mão aberta, no traseiro
da mulher. Imediatamente depois disso, o marido caiu ao chão, e perdeu os
sentidos, ficando na cama vários dias, com doença grave. Ora, é evidente que
essa doença não era natural, mas causada por alguma feitiçaria da mulher. E
muitos casos semelhantes já ocorreram, conhecidos por muitas pessoas.” (Sprenger
e Krämer apud SZASZ, 1976: 37)
“Para o psiquiatra
fanático, todos os homens são loucos, assim como para o teólogo fanático todos
os homens são pecadores” (SZASZ, 1976: 68)
“A verdade. Não; por sua natureza,
o homem tem mais medo da verdade do que da morte – e isso é perfeitamente
natural: afinal, a verdade, para o ser natural do homem, é ainda mais
repugnante do que a morte. Se assim é, por que devemos nos admirar de que tenha
tanto medo dela? (...) Afinal, o homem é um animal social – apenas no rebanho
pode sentir-se feliz. Para ele, é indiferente estar diante do mais profundo
senso comum ou da maior vileza – sente-se inteiramente à vontade com essa
afirmação, desde que seja a opinião do rebanho, ou a ação do rebanho, e possa
juntar-se ao rebanho.” (Sören Kierkegaard apud SZASZ, 1976: 87) Epígrafe
“Todo grupo – e isso inclui as
sociedades – é organizado e conservado por algumas idéias, práticas e valores
que não podem ser discutidos ou desafiados sem provocar sua perturbação, ou,
pelo menos, o medo de perturbação. (...) Portanto, ver o mundo de forma
diferente pode nos ameaçar com a solidão; dizer que o vemos de forma diferente
nos ameaça com ostracismo. Portanto, a hipocrisia é a homenagem que o intelecto
paga aos costumes.” (SZASZ, 1976: 88)
“As pessoas de bem dão nomes às
coisas, e estas conservam tais nomes (...) [O bode expiatório] está do lado dos objetos que recebem nomes,
não daqueles que o dão.” (Jean-Paul Sartre apud SZASZ, 1976:126) Epígrafe
“Ficou muito fácil ver que os
homens infelizes do passado viviam de acordo com crenças erradas e até
absurdas; assim, podemos não ter um respeito adequado por eles, e esquecer que
os historiadores do futuro indicarão que também nós vivemos de acordo com
mitos.” (Herbert J. Muller apud
SZASZ, 1976:143) Epígrafe
“A doutrina de que a doença mental
é uma doença está muito firmemente estabelecida pela ciência para que possa ser
considerada falsa. O prestígio e a tradição da profissão médica ficam como
obstáculos para a rápida correção desse erro monumental.” (SZASZ, 1976:
150)
“A grande maioria dos livros sobre
história da Psiquiatria sofre as mesmas deformações que as histórias da
escravidão escritas antes da Guerra Civil por homens favoráveis à manutenção
dos escravos. Os manuais padrões sobre a história da Psiquiatria são descrições
das glórias da Psiquiatria Institucional. Ainda não se escreveu uma história da
Psiquiatria do ponto de vista do “paciente”.” (SZASZ [nota de rodapé],
1976:158)
“As ideologias apresentadas em
vocabulário terapêutico ou de salvação são muito resistentes à crítica. Tais
sistemas de crença não apenas impõe obediência à verdade, tal como é revelada a
sacerdotes ou médicos, mas também definem o ceticismo como heresia ou loucura.
Portanto, a significação real da retórica terapêutica está em seu poder para
desarmar a vítima e o crítico. Afinal, numa sociedade cristã quem é que pode
opor-se a Deus? Apenas um herético. E numa sociedade científica, quem é que
pode opor-se à saúde mental? Apenas um louco.” (SZASZ, 1976: 164-165)
“Benjamin Rush afirmava que os
negros tinham pele negra porque eram doentes: admitia que sua doença devia ser
usada como justificativa para seu controle social. O seguidor contemporâneo de
Rush afirma que os homens cuja conduta sexual condena são doentes: usa sua
doença como justificativa para seu controle social.” (SZASZ, 1976: 203)
“Fingindo tratar uma doença
semelhante a sarampo durante seu período de incubação a fim de tratá-la melhor,
o psiquiatra na realidade impõe rótulos pseudomédicos aos bodes expiatórios da
sociedade, a fim de melhor prejudicá-los, rejeitá-los e destruí-los.” (SZASZ,
1976: 207)
“Segundo o Psiquiatra Irving
Bieber: “A incapacidade para casar, em
qualquer dos sexos, é conseqüência de medo do casamento. Existe um crescente
reconhecimento de que o celibato é sintoma de psicopatologia ...” (Time, 15
de set., 1967 p. 27) Nota de rodapé apud
SZASZ, 1976: 209)
“Na primeira metade do século XIX,
a masturbação gradualmente se torna definida como um problema psiquiátrico.”
(SZASZ, 1976: 218)
Em 1816 o psiquiatra Esquirol afirma: “A
masturbação é reconhecida em todos os países como causa comum de insanidade”
(apud SZASZ,1976: 219)
Em 1822 Esquirol afirma: “O
onanismo é um sintoma grave na mania; se não for impedido imediatamente, é um
obstáculo insuperável à cura. Ao reduzir as capacidades de resistência, reduz o
paciente a um estado de estupidez, à tísica, ao marasmo e à morte.” (apud
SZASZ, 1976: 219)
“(...) o opressor invariavelmente
se vale da força e da fraude para dominar e explorar seu antagonista;
frequentemente cria uma retórica terapêutica, justificando seu domínio por
afirmações de altruísmo e um desejo de ajudar a vítima; a crítica à prática
opressiva fica impossível por causa da perseguição do crítico como um traidor
da ordem social existente; finalmente, a ideologia da coerção útil é
institucionalizada, estabilizando e perpetuando as práticas persecutórias por
longos períodos de tempo.” (SZASZ, 1976: 238)
“Nunca é apenas o homem que comete um delito
contra seu semelhante. Alguém ou alguma coisa – o demônio, a masturbação, a
doença mental – sempre intervêm, para obscurecer, desculpar e atenuar a desumanidade
do homem com relação ao homem.” (SZASZ, 1976: 240)
“A nossa sociedade secular teme a
homossexualidade da mesma forma e com a mesma intensidade com que as sociedades
teológicas de nossos antepassados temiam a heresia. A qualidade e a extensão dessa
aversão são reveladas pelo fato de que a homossexualidade é considerada um crime e uma doença.” (SZASZ, 1976: 279) (grifos do autor)
“Em qualquer exame de
pessoa inferior por uma autoridade superior, devemos supor que a primeira possa
modelar suas respostas de acordo com as expectativas do segundo; em resumo, que
possa mentir”. (SZASZ, 1976: 287)
“O judeu está livre para fazer o mal, mas não o bem; tem apenas
livre-arbítrio necessário para assumir responsabilidade integral pelos crimes
que praticou; não livre-arbítrio para conseguir a reforma.” (SATRE apud SZASZ, 1976: 308) (grifos do
original)
“Para o grupo, é mais fácil
proteger-se da acusação de que transforma em vítimas alguns dos seus membros do
que o indivíduo proteger-se da acusação de que ofende a comunidade.” (SZASZ,
1976: 317)
“A violência potencial de alguns
evidentemente não justifica a violência efetiva de muitos.” (SZASZ, 1976:
317)
“Geralmente, retiramos o sentido
que os outros dão às suas vidas, validando nossa humanidade ao invalidar a
deles.” (SZASZ, 1976: 325)
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