“Devo ser cruel para fazer o bem.
Assim nasce o mal – e por detrás, o pior vem.” (William Shakespeare apud
SZASZ, 1994: 9 epígrafe)
“A benevolência é cultivada
constantemente pelos filantropos, às expensas da modéstia, da veracidade e da
consideração pelos direitos e pelos sentimentos dos outros; pois, pelo simples
fato de um homem dedicar-se a esforços conscientes para tornar outras pessoas
mais felizes e melhores do que são, esse homem afirma conhecer melhor que eles
quais são os elementos necessários que constituem a felicidade e a bondade. Em
outras palavras, ele se arvora em seu guia e superior.” (Jurista Vitoriano
James Fitzjames Stephen apud SZASZ,
1994: 15-16)
“Em nosso [psiquiatria] afã de medicalizar a moral, transformamos
quase todos os pecados em
doença. Raiva , gula, luxúria, orgulho, preguiça são todos
sintomas de doenças mentais.” (SZASZ, 1994: 22)
“Somente os anjos são capazes de ginásticas existenciais de odiar o
pecado mas amar o pecador. Os mortais comuns são mais propensos a praticar o
pecado na intimidade e odiar o pecador em público”. (SZASZ, 1994: 26)
“Tirar um homem, que sequer cometeu
um leve delito, de uma comunidade que ele escolheu para viver é uma violação
evidente da liberdade e da justiça normal.” (Adam Smith apud SZASZ, 1994:
35)
“A
história nos ensina não apenas que os pais sempre abusaram dos filhos, mas
também que cada prática abusiva socialmente adotada estava, por definição, tão
bem integrada na cultura que a servia que, para uma pessoa razoavelmente
aculturada, não parecia de modo algum ser um abuso.” (SZASZ, 1994: 104)
“No
Ocidente, um pai não pode consentir que seu filho menor tenha relações sexuais
com uma pessoa adulta (“para o próprio bem do filho”). Igualmente, não se
deveria permitir que um pai consentisse que seu filho tivesse relações
psiquiátricas (“para o próprio bem do filho”). As relações sexuais entre adulto
e crianças são legalmente consideradas como estupro; a psiquiatria infantil
deveria ser banida, como um estupro psiquiátrico.” (SZASZ, 1994: 109)
“Sou
a favor da eutanásia para esses seres [paciente mental infantil] sem esperança, que nunca deveriam ter
nascido – enganos da natureza... Creio que seja um ato de misericórdia e de
bondade livrar esses defeituosos da agonia de viver... O organismo social
crescerá e irá de encontro ao desejo de mitigar, decentemente, a vida dos
absolutamente incapacitados, esterelizar os menos incapacitados e educar os
menos incapacitados... e, assim, a civilização poderá progredir para sempre em
harmonia.” (Um dos maiores Psiquiatras na América em 1941 Foster Kennedy apud SZASZ, 1994: 116)
“Vivemos
enganando a nós mesmos de que ter um lar e ser mentalmente saudável são nossas
condições naturais – e de que nos tornamos sem-lar ou mentalmente doentes
quando “perdemos” nossos lares e mentes. O oposto é que é verdade. Nascemos sem
lar e sem raciocínio e temos que nos esforçar e nos alegrar se conseguirmos
edificar um lar seguro e uma mente sã.” (SZASZ, 1994: 138-139)
“(...)
nós frequentemente atribuímos o mau comportamento à doença (para desculpar o
agente); nunca atribuímos o bom comportamento à doença (a menos que privemos o
agente de crédito); e, tipicamente, atribuímos o bom comportamento ao livre
arbítrio e insistimos que o mau comportamento, chamado de doença mental, é um
ato “não falho” da natureza.” (SZASZ, 1994: 167)
“É
mais do que certo que, sob a máscara da devoção e do gesto piedoso adoçamos,
sim, o próprio demônio.” (William Shakespeare apud SZASZ, 1994: 180)
“Os
gregos entendiam que encontrar a verdade era um ato de descoberta que exigia
remover “o véu que cobre ou oculta algo”. O véu que usamos para encobrir a
verdade da condição humana é a psiquiatria. Se o levantarmos, redescobriremos
os fundamentos familiares da existência, isto é, que algumas pessoas trabalham
e outras não – e que o negócio da psiquiatria é distribuir alívio aos pobres
(disfarçado em cuidado médico) e a adultos dependentes (cuja indolência e falta
de pudor são disfarçadas em doença).” (SZASZ, 1994: 225)
“A verdade é que, após tratamento com drogas neurolépticas,
os pacientes mentais tendem a ficar mais doentes e mais incapazes que antes.
Muitos exibem os efeitos tóxicos das drogas, sofrendo de uma perturbação
neurológica desfigurante chamada de “discinesia tardia”. Praticamente, todos
eles continuam a depender da família ou da sociedade para alimentação e abrigo.
O contraste estabelecido entre o hospital mental e a comunidade é uma mentira.
Os domicílios que agora recolhem pacientes mentais crônicos não são nem mais
nem menos parte da comunidade do que o hospital do Estado.” (SZASZ, 1994: 231)
“Uma vez que o paciente mental que se enquadra nos
benefícios por invalidez é considerado como permanentemente incapaz de
trabalhar, ele não tem que se submeter a tratamento, pode viver onde quiser e
gastar seu dinheiro como bem entender; pode casar-se, divorciar-se, ter filhos
e votar. Se for detido por algum crime, pode alegar insanidade. A única coisa
que ele deve fazer para qualificar-se a receber os fundos federais é permanecer
louco e desempregado.” (SZASZ, 1994: 247)
“A maioria das pessoas acredita que pessoas psicóticas
sofrem de ilusões e alucinações, executam atos ilógicos ou sem motivo e negam
sua doença. A verdade é mais simples e mais dolorosa. Os atos e as falas dos
psicóticos fazem muito sentido, mas isto é algo tão perturbador que preferimos
não ouvir nem entender. Essa recusa de uma pessoa normal em reconhecer o método
na conduta irregular do outro pode ser uma opção existencial razoável. Mas
aquele que não quer entender o outro, não tem direito a dizer que aquilo que o
outro faz ou diz não faz sentido.” (SZASZ,
1994: 271)
“porque eu percebi que você [SZASZ] queria manter os
valores do livre arbítrio e da responsabilidade e era forçoso reconcilia-los
com a psiquiatria. Por mim, muito antes de ter mudado minha residência da
medicina para a psiquiatria, estou certo de que isso era impossível, que a
psiquiatria estava basicamente errada...” (Menninger
apud SZASZ, 1994: 304)
“Tenho
em mãos seu novo livro, Insanity: The idea and its consequences. Li parte dele
ontem e também cheguei a reler alguns trechos. Acho que sei do que trata mas
realmente gostei de ouvir isso dito outra vez. Penso que entendo melhor o que o
tem perturbado esses anos e que, de fato, perturba a mim também, agora. Não
gostamos da situação que ora predomina, onde um ser humano é posto de lado,
banido, por assim dizer, ignorado, rotulado e chamado de “doente da mente”.”
(Menninger apud SZASZ, 1994: 304)
“É desonesto valer-se do pretexto de que
cuidar coercitivamente do doente mental invariavelmente o ajuda e que abster-se
de tal coerção é o mesmo que “sonegar-lhe o tratamento”. Toda política social
acarreta benefícios e prejuízos. Embora nossas idéias sobre benefícios e danos
variem de tempos em tempos, a história nos ensina a estar precavidos com
benfeitores que privam seus beneficiários da liberdade.” (SZASZ, 1994: 308)